O João Martins gosta de contar uma história: resumidamente, ele estava num curso de Verão em Itália, tocou num combo mais virado para a música contemplativa, e logo a seguir deu uma perninha noutro, digamos, mais funk/rock, e os professores, ilustres americanos, não paravam de se admirar como é que o mesmo tipo tocava de formas tão distintas, mas em cada qual sem sair das suas sete quintas.
O João construiu um estilo que tem isto como um dos traços principais. Mais do que a mera polivalência, e mais do que a simples sobreposição, o que ele faz é incorporar numa mesma linguagem abordagens à bateria que à partida surgem como antagónicas. Tanto desenvolve energéticas explosões de ritmo, como se entrega ao mais ascético "less is more". Ele é, aliás, um adepto fervoroso do Paul Motian e um erudito de todos os assuntos motianos. Acho que é daí que lhe veio a ideia de fazer este quarteto com guitarra e sem baixo, e a influência aparece também claramente em muitas das composições que faz. O João consegue ainda dominar tanto a escala micro (o groove) como a escala mais macro, articulando solos com um arco formal que vai muito mais além do habitual crescendo->virtuosismo->aplausos.
Fiquei muito contente quando me convidou para este projecto, que é uma fonte de diversão e de aprendizagem constante, ao que também não são estranhos os fantásticos saxofonistas Fábio Almeida e Gabriel Neves.
"complexo sem ser ornamental e cativante sem roubar o protagonismo ao que realmente interessa neste contexto, a improvisação", Rui Eduardo Paes in jazz.pt.